Por uma política fiscal<br>mais justa!

João Frazão (Membro da Comissão Política)

Não é, nunca foi, posição do PCP, clamar contra os impostos. Os impostos são indispensáveis para assegurar os meios ao Estado para que este garanta a todos o direito à educação, à saúde, à justiça, à mobilidade.

Foi o PSD e o CDS que, em 2003, aprovaram o Código do IMI

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Sem os impostos de todos, haveria uns que teriam dinheiro para aceder com qualidade a esses direitos e outros a quem estariam sempre reservadas as migalhas, os mínimos, em muitos casos a ignorância, a morte prematura e evitável, a lei do mais forte. Sem impostos não haveria apoios à cultura e ao desporto, protecção civil, segurança, saúde pública.

No quadro do capitalismo, taxando mais aqueles que mais têm e mais ganham, os impostos introduzem elementos de redistribuição da riqueza, porque faz riqueza de todos o que era apenas de alguns, e faz justiça taxando menos os que, trabalhando e produzindo, vêem as suas profissões desvalorizadas por salários de miséria, que servem a acumulação do capital. Impostos sobre os rendimentos do trabalho e impostos sobre os rendimentos de capitais e sobre o património devem, por isso, ter tratamento diferenciado, devendo os primeiros ter uma forte progressividade, e os segundos taxar, com particular severidade, a especulação, a usura e a exploração.

Pela acção da política de direita, os impostos têm servido, ao invés disso, para carregar ainda mais nos trabalhadores e no povo e para aliviar os interesses económicos e financeiros e, assim, transferir ainda mais riqueza dos primeiros para os segundos: «Numa situação em que apenas um por cento da população detém cerca de 25 por cento da riqueza nacional (...) o peso do IRS não pára de crescer de tal forma que, na receita fiscal conjunta com o IRC, enquanto a relação entre estes dois impostos directos era de 3/5 de IRS e 2/5 de IRC em 2000, em 2014 essa relação é já de 3/4 de IRS e 1/4 de IRC» (in Programa Eleitoral do PCP, 2015).

Para além de toda a política de concessão de benefícios, isenções e perdões fiscais que, nos últimos anos fez desviar milhares de milhões de euros dos cofres do Estado e de decidirem não taxar uma parte das actividades económicas, designadamente as transações bolsistas, PSD, CDS e PS entenderam-se para a redução do IRC, mesmo quando aos trabalhadores por conta de outrém foi exigido um «brutal aumento de impostos». É por isso que o PCP tem apresentado ao longo dos anos um conjunto de propostas que visam, por um lado, aliviar a carga fiscal aos trabalhadores e às micro, pequenas e médias empresas e fazer pagar, de forma justa, as grandes empresas, a banca e o capital financeiro.

Manipulação sem vergonha

Nos últimos dias o País tem sido bombardeado por uma intensa campanha em torno do Imposto Municipal sobre Imóveis (IMI), em que convergem, uma vez mais, comentadores e espertos de matérias várias e políticos sem escrúpulos do PSD e do CDS. Sem escrúpulos, sim! Note-se que, a propósito do IMI, e independentemente do juízo crítico em concreto sobre as alterações agora concretizadas, vem essa gente fazer chacota porque se passará a taxar o sol, quando foram eles os autores do Código do IMI em 2003, que já incluía o critério da exposição solar (as casas viradas a sul), entre outros, para a valorização do património.

Código do IMI – que contou com a firme oposição do PCP – que significou um gigantesco aumento de IMI, cobrado às famílias, representando cerca de 450 milhões de euros a mais, enquanto estabelecia vergonhosas isenções para os fundos imobiliários, que especulavam com os imóveis. Os aumentos foram tão escandalosos num conjunto tão largo de situações que obrigaram à criação de uma cláusula de salvaguarda que impedia que esses aumentos se reflectissem de uma só vez.

Para além disso, PSD e CDS, já no anterior governo, procederam a um processo de reavaliação dos imóveis que levou a novos aumentos brutais, que se associaram à imposição do fim da referida cláusula de salvaguarda. Sucede ainda que, já no Orçamento do Estado para 2016 (que agora se encontra em vigor), o PCP, honrando a palavra dada de procurar aligeirar a carga fiscal para as famílias, propôs a redução da taxa máxima de IMI de 0,5 para 0,45, uma redução de 10 por cento, que o PSD não acompanhou.

Fica, pois, claro quem está preocupado com as famílias. E quem, pela sua prática no passado e no presente, tudo faz para prolongar a extorsão ao povo português.

Para o PCP a relação com os impostos é cristalina. Quem tem mais deve pagar mais. Património com maior valor (mobiliário e imobiliário) deve ser mais taxado. E não cansaremos na luta, na Assembleia da República ou nas autarquias, para que o Código do IMI e a aplicação da generalidade das suas normas ganhe uma dimensão de justiça e de alívio do valor a pagar pelas famílias portuguesas.

Mas não alinharemos na chincana política dos que rasuram as suas próprias responsabilidades de um passado não muito distante com a mentira e a deturpação no presente.




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